Casa de campo em russo. Homenagem a Fániutchca, minha mãe nascida em Riga então parte do Império Tzarista.
Domingo. Dia das Mães. Rosa e eu vamos à Datcha. Pequena reunião familiar. Gustavo e Luiz Henrique, filhos, Elizandra e Manuella, noras e neta Anna expressam todo o seu carinho por Rosa. Reunião alegre regada com muito afeto. Um dia especial. Participo da felicidade geral. Faço parte da família.
Retorno à Datcha. Longa ausência. Relembro o início. Rosa realiza antigo sonho. Constrói casa com carinho. Árvores, flores, gramado. Horta. Transplanta velha jabuticabeira. Irrigada, dá frutos o ano inteiro. Fotografo o tronco. Macrofotografias. Algumas de minhas mais belas imagens. Participo de tudo. Feliz. Casa aconchegante. Ampla varanda a circunda. Protege-a do sol e da chuva. Telas nas janelas protegem contra mosquitos. Invasão anual de besouros não impedem. Sento-me em confortável poltrona de vime na varanda. Contemplo a paisagem. Bonita. Repousante. Aviões riscam o céu. Levam passageiros para Goiânia e Belo Horizonte. Muitas vezes Rosa e eu somos passageiros. Seriemas barulhentas invadem o gramado. Bandos de tucanos reúnem-se em árvores próximas. Ouço canto de Pássaros. Observo João e Maria, casal de marrecos apaixonados. Sempre juntos. Maria desaparece. João, desesperado a chama sem parar. Vasculha toda a Datcha. Pede minha ajuda. Maria reaparece. Chama-o. João corre ao encontro da amada. Move rápido curtas perninhas. Maria choca ovos em ninho bem escondido. Cuidadosamente preparado. Sete marrequinhos nascem. Desvairado pelo ciúme, João ataca marrequinhos. Mata próprios filhos. João encarcerado. Marrequinhos sobrevivem. O ciúme doentio enlouquece. Olho para pequenino lago. Cores mutantes. Azul, verde, vermelho. Mares distantes singro. Desconhecidos. Mares tranquilos. Mares tempestuosos. Enfrento minhas próprias tormentas. Entardecer. Rosa e eu compartilhamos a hora do ooooh! Por do sol. Hora mágica. Sombras brotam das colinas distantes. Estrelas piscam no céu escuro. Mundos distantes mandam mensagens em código Morse. Paisagem. Refúgio. Entardecer. Duendes, estrelas. Rosa e eu construímos um refúgio. Datcha-refúgio.
Datcha-refúgio não mais existe. Datcha casa de Gustavo e Li é. Datcha visitante sou. Datcha-refúgio é passado. Dolorosa visita. Dolorosa percepção. Mais um capítulo de minha longa vida encerro. Muitos capítulos escrevo. Tragédias comédias, tragicomédias. Capítulos tristes com alegria encerro. Capítulos alegres, felizes, com pesar encerro. Escritor-ator novos capítulos escrevo. Novos papeis represento. Passado é passado. Imutável. Presente é mutável.
Croniketa em Destaque na 54a. Revista Ponto & Vírgula - Pág. 16
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