O celular me chama. Estridente. Insistente. Atendo seu chamado. Mantenho cordial diálogo com simpática voz sintética feminina. Educado, sigo estritamente as regras estabelecidas para conversar com vozes sintetizadas. Reproduzo o a seguir meu diálogo.
- Aqui é Manu. Falo em nome da Claro. Você é Daniela?
- Sim. (Afino minha voz).)
- Tenho informação importante para você. Os três primeiros algarismos de Seu CPF são 590?
- Sim. (Informação falsa.)
- Você está devendo 109 reais. Por 79 reais você pode saldar a dívida. Pode pagar até segunda feira?
- Sim.
- Mandarei a fatura por SMS.
Encerro o diálogo. Não recebo o SMS. Meu pobre e limitadíssimo celular é um incapaz. Não se comunica com a internet.
Fico livre da Claro por um dia. Na manhã seguinte recomeçam os telefonemas estúpidos. O robosta da Claro não é dotado de inteligência artificial. Possui invejável deficiência artificial. Não percebe estar ligando para telefone errado. Não devo nada à Claro. Não uso nenhum de seus serviços. Não sou cliente da Claro. Há muitos anos.
Croniketa de Dr. Ithamar Vugman, em destaque na página 15 da 56a. Revista Ponto & Vírgula (julho/agosto/setembro/2021)
Editora: Irene Coimbra
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