DA FOLHA SECA- Arthur Gregório Valério


 
Não tenho mais esperança
nas coisas nem nos homens. 
Eis minha alegria. 
Minha esperança 
são todas as esperanças possíveis 
de se suportar o mundo tal como ele é 
de suporta-lo, e não estar aquém dele 
de ser no mais, humano, e permanecer aí, 
não é preciso superar o homem nem a fraqueza
não é preciso deixar de sofrer.
Minha sina é permanecer aí, 
onde a finitude me abandona. 
Minha esperança é estar junto as coisas. 
Aguardar num canto, mas sem perder tempo, 
demorar-me sem equilíbrio na corda do inevitável 
e deixar que tudo fique como está, 
sem a necessidade de ser algo em especial, 
além de tudo o que já é. 
Nossas palavras passarão com os anos. 
O doce som dos bailes e do calor 
só existirá, quem sabe, no esquecido. 
O que ficará para o tempo 
serão silêncios e não palavras. 
O não dito, que abre caminho para o novo de outros homens.
A falta que faremos no sem-lugar 
que nunca nos conheceu. 
Todo o desamparo que não poderemos ouvir nem ver 
do alto da montanha 
e que será por nós tocado 
naquela presença palpável e imediata de quando já não 
pudermos estar presentes.
Não restarão dúvidas nem ressentimentos 
na velhice, quando tudo foi tal como foi. 
Não existem rivalidades entre os rapazes.
Ninguém mais é um rapaz.
Não há coisa alguma que não pareça pequena 
ou digna de pena. 
Não há lugar para orgulhos, nem arrependimentos  
e nem tempo para se desperdiçar. 
Como o passado é tudo 
e o futuro nada, 
a vida ganha e então perdida 
é por fim ganha sempre outra vez tal como pode.
Tudo o que conhecemos nos nossos dias passará 
e só terá feito sentido, no fim, 
aquilo que deixamos escapar, 
onde nos pegamos, de repente, 
quem sabe felizes, com as coisas, 
sem nenhuma ingenuidade, 
pois aí já havíamos desistido de toda felicidade. 
Deixar que os mortos morram em paz.
Deixar que um botão de rosas seja o que é, 
e não outra coisa.
Deixar, sem desejá-lo, 
que aquilo que é mortal, seja mortal 
pois tudo o que é nosso morrerá, 
mas nunca será perdido 
antes de perdemos a vã ideia 
de que o fim, é o fim 
e não existem apesares.


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