DAS ÚLTIMAS CONCLUSÕES - Arthur Gregório Valério

 















No fim, são os fins 
A alma nunca morou ao lado, 
nem esteve escondida dentro do corpo, 
ou das coisas.
O corpo, tal como ele é, 
nunca foi digno de culto nem de perseguições. 
O corpo não era senão uma coisa entre as outras, 
como a alma, e a verdade.  
Tudo era mesmo o que era, do modo como era. 
O que valeu a pena, valeu,
 e o que não valeu, também foi-se
O mistério do mundo 
sempre foi a possibilidade angustiante 
de não haver no mundo mistério algum. 
Mas ao invés disso, abismo
que não tem fundo nem porquê. 
No fim, são os fins. 
Nada se concebe do que é inconcebível. 
Nada se pensa do que é impensável.
A revolução não foi outra coisa senão assassinato. 
A meritocracia e a igualdade, 
débeis fantasias de berço. 
O impossível continuará impossível, 
e o possível, indecifrável. 
Que tenham fé os que a procuram,
mas saibam os que não a procuram, 
que suas certezas vulgares, 
ditas, de passagem, racionais, isto é, lógicas
são tão duvidosas quanto a capital 
do país das fadas.
E que saibam todos, que, no final, 
é vedado ao homem
o conhecimento de onde se vem, 
e para onde se vai.
Ou porque razão se questiona desde cedo, 
na reflexão mais inútil e estúpida concebível, 
sobre aquilo que não sabe explicar-se 
sequer para si mesmo. 
A alma nunca morou no subterrâneo, 
nem no céu.
Os olhos nunca enxergaram nada por de trás das ilusões 
e cada qual na sua ilusão, já de antemão perdida 
naquilo que encontrava pelo caminho 
se afundava ainda mais. 
No ocaso, sem nuvens e sem verdade,
cego de tanto ver e louco de tamanha razão 
onde o caminho chega ao fim
e não há nada que se diga sobre o mundo
que não seja também mortal ou passageiro
como tudo sempre foi.


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