No fim, são os fins
A alma nunca morou ao lado,
nem esteve escondida dentro do corpo,
ou das coisas.
O corpo, tal como ele é,
nunca foi digno de culto nem de perseguições.
O corpo não era senão uma coisa entre as outras,
como a alma, e a verdade.
Tudo era mesmo o que era, do modo como era.
O que valeu a pena, valeu,
e o que não valeu, também foi-se
O mistério do mundo
sempre foi a possibilidade angustiante
de não haver no mundo mistério algum.
Mas ao invés disso, abismo
que não tem fundo nem porquê.
No fim, são os fins.
Nada se concebe do que é inconcebível.
Nada se pensa do que é impensável.
A revolução não foi outra coisa senão assassinato.
A meritocracia e a igualdade,
débeis fantasias de berço.
O impossível continuará impossível,
e o possível, indecifrável.
Que tenham fé os que a procuram,
mas saibam os que não a procuram,
que suas certezas vulgares,
ditas, de passagem, racionais, isto é, lógicas
são tão duvidosas quanto a capital
do país das fadas.
E que saibam todos, que, no final,
é vedado ao homem
o conhecimento de onde se vem,
e para onde se vai.
Ou porque razão se questiona desde cedo,
na reflexão mais inútil e estúpida concebível,
sobre aquilo que não sabe explicar-se
sequer para si mesmo.
A alma nunca morou no subterrâneo,
nem no céu.
Os olhos nunca enxergaram nada por de trás das ilusões
e cada qual na sua ilusão, já de antemão perdida
naquilo que encontrava pelo caminho
se afundava ainda mais.
No ocaso, sem nuvens e sem verdade,
cego de tanto ver e louco de tamanha razão
onde o caminho chega ao fim
e não há nada que se diga sobre o mundo
que não seja também mortal ou passageiro
como tudo sempre foi.
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