Eu estava nascendo! Nascia pelado, vermelho e quente. Eu nascia feliz por ter um mundéu de possibilidades para os filhos no futuro próximo de um bilhão de anos, mais ou menos, de espera.
Eu nascia, para eles era o bastante.
Alguns trilhoezinhos de anos se passando, eu adulto, tudo rápido: dores externas, internas explosões. Juventudezinha-hippie-dinossáurica. Fui me tornando bem verde demonstrando meu ideal de solidariedade. Minha estampa cobrindo o verde das coisas.
Meus filhos vieram homo-sapiamente a cobrir-me por todos os lugares e me tornaram feliz. Esta felicidade foi por um fio de esperança que logo se desprendeu pelo universo, desapareceu aflita. Desapareceu. Aqui só ficou uma simples e frágil “guerra”.
Talvez eu não lhes tenha indicado o caminho certo, talvez não os tenha educado bem. Olha, ainda existe uma esperança; talvez eles não sejam meus. Pode ser que tenham vindo de outro sistema, mas olha, de nada adianta, pois isto não fará com que as “guerras” se findem. O que posso fazer?
Meu último desejo, que não é o de fumar um jato de chamas, formulado está:
- Eu, um simples MUNDO, espero que cada guerreiro ponha a mão na consciência e...
- Avançar, digo RECUAR.
(Conto publicado na Revista Literária PROTÓTIPO 1I, dezembro 1972 e no livro Mortos não contam contos - 2014).
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Conto de Carlo Montanari, publicado na página 35 da 18a. Antologia Ponto & Vírgula, lançada dia 18 de dezembro de 2021, no Hotel Nacional, em Ribeirão PretoSP.
Editora FUNPEC
Coordenadora: Irene Coimbra
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