Há dois anos perdi meu Jugurta. Quem inventou a farsa que o tempo ameniza a dor? Mentira. Ela está aqui comigo como naquele dia fatídico. O enorme vazio, a vida sem sentido, os pesadelos. As lágrimas secaram, ficou a sensação da vida inútil. Maridos bons, fiéis, carinhosos, íntegros, não deviam morrer. No início a sensação de injustiça, como se fora um pesadelo. Tudo perdeu o encanto. Viver para que, com que sentido! Nos primeiros dias ficaram só as lágrimas, a perda de apetite, o vazio enorme, o desinteresse por tudo. Depois a obsessão de olhar as fotos com o rosto dele, como uma oração. E as noites insones, conversando com ele, procurando entender. Dois longos anos que não fizeram diminuir a angústia. Nunca fui ao cemitério. Ele não está lá, mas aqui comigo. Não sei se viver um grande amor é prêmio ou castigo. Se conhecer a felicidade é algo bom, porque a perda disso é um sofrimento infernal.
Quem não conhece o amor, não tem nada a perder. Fica imune. Conhecê-lo é realmente algo belo, mas vem também o risco da perda, morte em vida. Sobra apenas a duvidosa possibilidade de um dia, com a morte, se possa dar o reencontro. Mas tudo são dúvidas, hipóteses. Mistério insolúvel.
*
Crônica de Ely Vieitez Lisboa, em destaque, na página 15, da 59a. Revista Ponto & Vírgula - abril/maio/junho/2022
Comentários
Enviar um comentário