Escrevo no escuro da madrugada,
para não despertar o teu sono.
A luz da lanterna é a estrela guia.
São exatamente três e vinte nove.
Meus dedos percorrem ágeis
a folha de papel magia,
as letras saem rabiscadas
e distantes umas das outras.
Meus olhos tristes notados
ou desapercebidos, umedecidos,
descem sobre a folha rabiscada,
como a gota de orvalho
que cai da pétala da flor sozinha no vaso.
A tempestade de dentro,
junto com as estrelas de fora,
dão asas à imaginação.
Rabisco meus sentimentos no escuro,
mas ninguém consegue decifrar.
Como entender na tela vazia
o que vai em um coração?
Estou tão distante de tudo,
de todos, que, a única estrada que resta,
é passar para as folhas guardadas há tempos,
o que me vai na alma.
Quem sabe assim,
no meio da noite sem fim,
em que já não se enxerga nada,
alguém consiga decifrar
o grito amortecido dos sentimentos
incompreendidos de ontem,
de agora, de sempre...
*
Poema prosa de Cidinha Faggion, em destaque, na página 10, da 60a. Revista Ponto & Vírgula,
(julho/agosto/setembro/2022)
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