Revista Ponto & Vírgula - Edição 61 - Outubro/Novembro/Dezembro 2022

 


    Nasci num 08 de dezembro, na Ventania, oficialmente “Alpinópolis”. (Ah! Sou mineira, é claro! E o ano não interessa!) Meu pai, quando lhe nascia um filho, ia logo na “folhinha” ver o santo do dia. Meu nome só podia ser mesmo “Conceição” (ainda bem que ele omitiu o “Imaculada”!). Mas, do nome Maria não escapei! 

    Não sei por que cargas d’água meu pai colocou nas filhas-mulheres somente o sobrenome “Lima”, que era da família de minha mãe (aliás, um sobrenome de tradição lá na Ventania). Assim, por muito tempo, não fui “Alves”!  Quando me descasei pela segunda vez é que tratei de sê-lo também, para ter a marca de meu pai no nome.  Logo fui apelidada de “Ção” ou “Çãozi-nha”. O nome Conceição somente era usado nas ocasiões oficiais. E Maria, só mesmo quando faço viagens internacionais! 

    Minha mãe, até o fim de seus dias, fazia questão de anunciar que eu era muito chorona e “braba”. Também pudera! O enorme esparadrapo no umbigo de  minha foto de bebê atestava que eu tinha “quebradura”, aquela terrível hérnia abdominal que dói pra caramba! Mas, outra fotinha com três anos mostra mesmo uma pequenina de cara amarrada, a cabecinha inclinada como faço até hoje, um laço enorme na cabeça e (pasmem!) colar de pérolas. 
    Aos cinco ou seis anos, eu me lembro que era magrela e doentinha. Meu pai me pesava toda a semana para ver se eu tinha engordado uns quilinhos... Minha mãe garantia que eu tinha asma e que um “benzedor”, o Zacarias, me curou com Fimatosan. Hoje, duvido disso! Asma não se cura, é um estado alérgico! Porém, descobri (mais de meio século depois) que sou intolerante ao glúten. A causa pode ter sido sempre essa...
    Fui mesmo uma menina-fera. Em tudo! Comandava a turma, não tinha medo dos moleques intrometidos, não levava desaforo para casa. Muitas aventuras vivi: brincadeiras de rua, cirquinho no quintal, pique na mangueira, fuga para os córregos da redondeza. Depois levava bronca e mais bronca! Mas, tapa... nunca! Meus pais não eram disso! Na escola, eu era mais “fera” ainda, não abria mão da nota 10! Outro dia mostrei ao meu neto um boletim escolar. Dez o ano inteiro... Ele não acreditou!
    Aos dez anos fui para o colégio interno. Então, a felicidade se acabou! Não vale a pena lembrar! Saí aos 17 anos para casar... Três casamentos depois, isso também não vale a pena lembrar! Todavia, a minha missão mais importante foi cumprida com todo o esmero!
     Criei sozinha meus três adoráveis tesouros, os filhos Carla Andrea, Pollyanna Lavinia e Renzo Patrick. Agora já sou avó de seis: Rafael, Felipe, Larissa, Erick, Mariana e Lívia Maria.
    Passando da vida pessoal para a profissional, comecei como professorinha do bê-á-bá. Alfabetizei com muito sucesso crianças difíceis, com retardo escolar e social. Ao mesmo tempo, tratei de ser professora de línguas e de Didática. E nisso também fui muito bem sucedida! No ano de 1970, fui admitida na ELETROBRÁS – FURNAS.
    Em Furnas, comecei por chefiar a Secretaria Administrativa da Usina, sendo remanejada, posteriormente, para a Coordenação Pedagógica do Centro de Treinamento da empresa, até ser convocada para assessorar a Superintendência de Operação de FURNAS. Concomitantemente, fui Vice-Diretora da Escola Estadual de Furnas e, como trabalho voluntário, participei da criação do Fundo Assistencial Furnense, do qual fui Diretora Administrativa e, em seguida, Presidente.
    Aprendi muito com a empresa FURNAS, principalmente organização e administração. Criei a habilidade de ser rápida e eficaz nas decisões e ações. Como única mulher num time de marmanjos, aprendi a me safar de “saias justas” e a rebater ditos e piadas machistas. Foi lá também que me iniciei e me afeiçoei às tecnologias digitais. 
    A atividade acadêmica no Magistério Superior iniciou-se no Curso de Letras da Faculdade de Filosofia da atual Universidade de Minas Gerais, campus de Passos, lecionando Teoria Literária e Linguística, tendo ocupado ainda a Chefia do Departamento de Letras. Esse trabalho durou mais de 20 anos e foi exercido concomitantemente com as atividades em FURNAS, até aposentar-me a contragosto em 1992 e, acompanhando o segundo ex-marido, ir viver no Mato Grosso do Sul, na pequenina Batayporã.
    Lá comecei tudo do zero novamente, mas fiz o meu melhor. Dediquei-me com afinco ao vilarejo, tive a oportunidade de praticar o voluntariado e, inclusive, participar da criação da APAE da localidade, da qual fui a primeira Presidente. Incrível! Foi em Batayporã que aprendi a língua tcheca, já que a cidade mantém uma estreita relação com a República Tcheca, visto ter sido fundada por um empresário evadido daquele país por ocasião da ocupação comunista após a Segunda Guerra Mundial. O casamento acabou, o marido voltou ao sudeste, eu lá fiquei por outros quase 20 anos e fiz grandes amigos. Saudades, muitas saudades do “meu” Mato Grosso do Sul!
    Em 1994, participei da implantação da recém-criada Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, uma instituição multicampi, onde, aprovada em concurso público, fui efetivada para a área de Linguística, iniciando um percurso de Pesquisadora, Extensionista e Docente que durou até abril de 2011. 
    Em 2014, fixei residência em Ribeirão Preto (SP), com o objetivo de dedicar-me, prioritariamente, à missão de Escritora. Recém-chegada a esta cidade, além de frequentar a Academia Filosófica Cristã, tornei-me membro assíduo da Casa do Poeta e do Escritor de Ribeirão Preto e da Associação dos Médicos Escritores e Amigos “Dr. Carlos Roberto Caliento”, participando ativamente de seus saraus (presenciais ou virtuais) e dos respectivos grupos online.  
    Ribeirão Preto me encanta e me assusta até hoje! “Mautorista” que sou, me perco em seus meandros e tenho pavor de estacionar nos “buraquinhos” ao longo das avenidas e ruas. Todavia, já aprendi a amar esse (para mim) labirinto ribeirão-pretano!
    Mineira que sempre serei, de paixão, a partir do final de 2020, passei a fazer parte do grupo fundador da Academia Feminina Sul-Mineira de Letras, Cadeira nº 32, tendo como Patrona Janete Clair. Em maio de 2021, fui eleita membro efetivo da Academia Ribeirãopretana de Letras, também para a Cadeira nº 32, cuja Patrona é Cecília Meireles. Que maravilhosa coincidência: o mesmo número de Cadeira e duas Patronas mulheres! 
    Já rodei várias vezes a parte do mundo que me interessa, a Europa ocidental. Vivi algum tempo em Londres (sou fascinada por esse lugar e me tornei perita em circular pelos trens e metrôs londrinos). Estive algum tempo nas Astúrias (Espanha), onde “acampei” num chalezinho às margens do rio Nalon, na pequenina Pola Laviana. Quanto à Escandinávia, fiquei (e continuo) literalmente apaixonada pelo interior da Noruega, suas montanhas de pinheiros decorados com neve, seus fiordes espelhados, suas casinhas coloridas. 
    Aqui estou eu agora, fazendo tantas coisas que não dá mais para detalhar. Publicações, feiras de livro, saraus, palestras, entrevistas, lives de todo o tipo, cursos... E faço questão de escrever, infalivelmente, todo o santo dia, produzindo alguma coisa para ser aproveitada ou mesmo jogada no lixo. 
    Como sempre fosse muito afeiçoada à música, já participei de vários corais, dentre eles o Coral Zíper Na Boca, da UNICAMP e o Coral Pop Minaz de Ribeirão Preto. Hoje participo do Grupo Feminino Zênite, da USP-Ribeirão. Realizando um velho sonho de infância, ultimamente tenho me dedicado à composição musical para piano, algumas delas a duas e quatro vozes. E já pintei alguns quadros. Ano que vem, com certeza, vou me matricular no curso de pintura da Nice Forti. Já combinei com ela...
    Em termos de escolaridade, “ostento” uma formação acadêmica que, modéstia às favas, eu diria invejável: Pós-Doutora em Linguís-tica (linguagem no meio digital) pela UNICAMP; Doutora em Letras (linguística e filologia portuguesa) pela UNESP de Assis; Mestre em Educação (metodologia do ensino) pela Universidade Federal de São Carlos; Especialista em Gestão da Educação a Distância pela Universidade Federal de Juiz de Fora; Especialista em Planejamento e Didática do Ensino Superior pela Fundação de Ensino Superior de Passos/Universidade Estadual de Minas Gerais (FESP/UEMG); Licenciada em Letras e Pedagogia Plena (Magistério, Administração, Supervisão e Orientação Escolar) pela FESP/UEMG. Ah! Fiz também um Curso de Inglês no Oxford House College, de Londres.
    Articulista, ensaísta, cronista, romancista, contista e poeta, até o momento já produzi/participei de 29 obras acadêmicas, ficcionais ou poéticas, sendo 12 livros solo, 3 coautorias e 14 coletâneas, além de inúmeros artigos científicos e ficcionais, ensaios, crônicas e poemas impressos e online. Conferencista e palestrante, tenho levado minha fala a inúmeras plateias, abordando basicamente os temas ligados à linguagem, à literatura e à educação, especialmente aquelas exercidas no meio digital.  
    Em função dessa atividade líteroeducativa, já recebi vários prêmios literários, moções de aplauso, medalhas e diplomas de honra ao mérito. Tenho também um Currículo Lattes recheado, que pode ser consultado online na Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), no endereço.
    Conheci muita gente boa, fiz grandes amigos. Será que sou feliz? De fato, não sei! Tento parecer... Pouco importa!  Ultimamente, venho me dedicando, com afinco, à espiritualidade. Quero mesmo é me tornar uma pessoa melhor. Tudo o mais pertence ao desígnio insofismável de Deus! Ou do Universo! Sei lá...


Texto em destaque nas páginas 4,5 e 6 da 62a. Revista Ponto & Vírgula (outubro/novembro/dezembro/2022)

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