Há unanimidade entre os escritores quando afirmam que a democracia ocidental, como governo do povo (“demos”: povo; “cratos”: poder) foi primeiramente projetada pelos gregos. A afirmação encontra época na origem das palavras.
Antes da condenação de Sócrates 469-399 (antes de Cristo) condenado a morrer envenenado bebendo “cicuta”, os gregos já não apenas lidavam com as palavras escritas, como também já compunham obras clássicas como a Ilíada e a Odisseia atribuídas a Homero (928-898 antes de Cristo).
É bem verdade que quase todos os povos então existentes insistiam em registrar sua dificuldade em conceituar a “vida”, as “ideias” e os “sentimentos”. Foi somando e dividindo e somando os seus efeitos, eles acabaram construindo regras de conduta, como punições aos seus possíveis infratores.
Após a execução de Sócrates, que nada deixou por escrito, seu mais notável discípulo, Platão (428/348 antes de Cristo), desenvolveu a tarefa de registrar sua herança, como também se afastou da Grécia, passando a trabalhar no sol da Itália que recebia forte influência grega. A cidade de Nápoles exibe em seu nome o significado de “nova cidade” em grego. Platão preocupou-se com as “ideias” dos homens, valorizadas por ele muito mais do que os seus sentimentos.
Em Atenas Platão instalou sua Academia em 384 antes de Cristo e que, quase um século depois, em 529, depois de Cristo, foi fechada por ordem do Imperador Romano Justiniano, sob o argumento de que os ensinamentos dos gregos violavam a doutrina de Jesus Cristo.
Como Péricles ((495/429 antes de Cristo)): “Somos uma democracia porque a administração pública depende da maioria e não de poucos; nessa democracia todos os cidadãos são iguais perante as leis para resolver conflitos particulares”. Indagam-se, quantas nações durante o século XX poderiam proclamar a obediência a esta afirmação sem cometer uma inverdade?
O mais famoso discípulo de Platão, Aristóteles (384/322 antes de Cristo), entre outras de suas grandes lições, deixou para a humanidade a divisão dos três poderes da república democrática: o legislativo, exercido pelo povo: o judiciário exercido pelos juízes e o executivo pelos administradores. Assim foram lançados os alicerces do Estado atual. É importante registrar que vários romanos de grande valor estudaram na Grécia.
Com a perseguição encetada pelos imperados romanos contra a filosofia grega, a Europa foi mergulhada no estado de ignorância quanto à matéria referida tanto à filosofia como quanto a política. Os árabes e os judeus ocuparam o espaço.
Com a invasão dos árabes na Península Ibérica, antes da existência da Espanha e de Portugal, na cidade de Córdoba, numa mesma época nasceram dois dos mais importantes estudiosos da filosofia grega. Refiro-me ao mulçumano Averrois ou Abu Chalide Maomé ibne Amade ibne Ruxide (1126/1198), e, o judeu Rambam ou Maimônides (1135/1204), que se converteram nos dois polos insuperáveis no desenvolvimento dos trabalhos de Aristóteles. São Tomás de Aquino chegou a ser acusado de “averroismo”.
Outro mulçumano persa, Avicena ou Abu Ali Huceine ibne Abdala ibne Sina (980/1037), deixou extensa obra sobre filosofia, especialmente sobre Aristóteles. Tal como o judeu Maimônides, Ibn Sina também era médico. Manteve uma escola de medicina. Afirmam os historiadores que do vocábulo Ibne Sina nasceu o nome da “medicina”. Avicena é o nome ocidental atribuído ao persa Ibne Sina.
Este texto é a tentativa de ser feito um brevíssimo relato sobre a vinculação da democracia com a sua mãe, a filosofia.
Procurador de Justiça e professor universitário da UNESP (aposentado). Advogado
Tais C. Roxo da Fonseca
Advogada
Texto de Dr. Sérgio Roxo da Fonseca, em destaque, na 61a. Revista Ponto & Vírgula - Pág. 12
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