Minha vida é um sol empoeirado de setembro,
um ocaso de ferrugem,
coberto de silêncios sanguíneos e velharias
jogadas pela estrada das coisas.
Sou o mato, e não o mar.
Um canavial de ilusões perdidas,
enquanto sonho meu suor
e acordo na tempestade roxa,
de borboletas más,
como uma palavra de água,
na aurora e na goteira da casa.
Abençoo minha testa com barro...
Meus olhos, essas pedras duras
que escondem uma alma magra,
têm sede de uma claridade pura, que não há.
Enquanto todas as estrelas que conheço, e que amo
são de terra e de mato
e não de luz, e não de céu.
Pois nada me consola quando a tarde cai.
Pois amo tudo o que perece, e só porque perece.
Sempre estrangeiro no sem-lugar do mundo.
Noite a dentro de um poço,
em pele de cobra e alma de lua,
feito a lembrança vaga,
que o fogo abrasa,
solitária e nua.
Poema de Arthur Gregório Valério, em destaque, na página 16, da
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