APRECIAÇÃO CRÍTICA DE OBRA “IMPRESSÕES COLHIDAS” (POESIA E PROSA) - IRENE COIMBRA – 2023 Por Conceição Lima

 

Nesta obra, Irene Coimbra colheu suas impressões existenciais e as escolheu para poetizar. Foi uma farta colheita e dela resultaram algumas pérolas que, por minha vez, escolhi para degustar. No cardápio, havia poesia e prosa. Obviamente que escolhi os poemas, embora a prosa também seja muito interessante. 

Logo na página 1, nossa autora já registra a sua “amorosa” resposta dada a um professor de gramática, que lhe havia pedido a conjugação do verbo amar. Eis que essa resposta veio pronta, cabal, irônica e criativa: 

“– Amar... verbo regular 

da primeira conjugação! 

Isso para a Morfologia, 

não para o meu coração. 

Ele não conjuga verbos, 

muito menos o verbo amar. 

Esse verbo é para sentir 

e não para conjugar.” 

A seguir, na página 2, ele se declara à procura de si mesma: 

“Desde que me perdi 

Ando à procura de mim [...]” 

De enfiada, na página 3, Irene expressa a sua angustiante constatação de que... 

“Em meio à multidão, 

sou apenas um nada!” 

Daí vou direto para a página 6 e me solidarizo com a “A revolta da Poeta”: 

“Só porque não uso palavras rebuscadas, 

você diz que meus poemas não valem nada?” 

Na página 7, a autora nos alerta sobre a depressão, essa “Assaltante brutal” que não poupa nem os poetas: 

“Cuidado, poeta! 

Sem você perceber, 

ela lhe rouba até a vontade de viver. 

Esteja sempre de prontidão 

para não ser mais uma vítima 

da terrível DEPRESSÃO!” 

Assim como acontece, às vezes, com todos os artistas das letras, nossa poeta também se vê bloqueada no momento de expressar a sua arte, segundo ela, por culpa do cérebro que se travou. É o que ela nos confessa na página 10: 

“[...] e o poema que seu sonhava 

travado também ficou.” 

Como sabemos, os poetas sabem cuidar muito bem da saúde e do bem-estar da alma. Nesse aspecto, Irene Coimbra nos dá um sábio conselho (página 12): 

“Para agasalhar a alma 

e mantê-la aquecida, 

não guarde ressentimentos 

e esteja de bem com a vida.” 

Já na página 17, no poema “Enfadada”, ela nos aconselha sobre como bem poetizar: praticando, é claro! 

“Estou cansada 

de tanta teoria 

que fala sobre a poesia.” 

Chegada à página 20, fui surpreendida com uma metáfora incrivelmente forte: 

“Peguei meu corpo, 

que jazia desacordado, 

e o levei para a cama, [...]” 

Um mini poema (que, aliás, dá nome à obra (“Impressões colhidas”), surge de supetão na página 23: dois versos apenas... eis a obra de Irene Coimbra brilhantemente resumida: 

“Por meio de impressões colhidas, 

vou norteando minha vida!” 

Outra metáfora surpreendente enfeita a página 28, no início do poema “Luta atroz”: 

“estou numa queda de braço 

com o meu cansaço.” 

E, no finalzinho do poema da página 29, uma das mais sutis declarações de amor à mãe que já tive oportunidade de ler. Inclusive, a pausa intencionalmente criada entre os dois versos finais dá a exata medida da emoção que o poema expressa, ou seja, o silêncio que nessas ocasiões nos embarga a voz para dar lugar e melhor expor o nosso sentir: 

“Ah, mãe, que saudade de você! 

................................................................... 

Você tinha mesmo que morrer?” 

A próxima pérola de Irene aparece na página 32 e está endereçada ao amado: 

“Meu amor, 

não diga nada, por favor. 

Deixe-me sonhar...” 

O recado a seguir está na página 36 e interessa a cada um de nós: 

“Há quanto tempo vem lutando contra você? 

Por que se preocupa com coisas tão banais, 

deixando de lado as essenciais?” 

A seguir, na página 37, no poema “Passou da Idade?”, a poeta faz uma indagação inesperada que, na verdade, expressa em si mesma uma resposta “inteligente”:  

“Se a idade já passou, 

não teria que morrer?” 

O poema da página 39, eu fiz questão de transcrevê-lo inteirinho: 

“Perguntas” 

“Você é mal humorado, impertinente 

e aborrece muita gente? 

Vive implicando com todo o mundo 

a toda hora e a cada segundo? 

Julga-se o mais inteligente 

e assim sempre se sente? 

Considera-se infalível 

e jamais é acessível? 

Fala de si o tempo inteiro 

e quer ser em tudo o primeiro? 

Se respondeu ‘Sim’ 

vá para bem longe de mim! 

Mas se respondeu ‘Não’ 

abro-lhe as portas do meu coração!” 

“Acusada” por alguém de ter “pavio curto”, na página 40 a autora responde à altura: 

“Para certas situações, 

nem tenho pavio não!” 

Na página 41, encontra-se o poema “Poeta Sonhador”. Eis que a autora termina esse poema com uma indagação inquietante para todos aqueles que lutam com as palavras diuturnamente: 

“Ah, Poeta Sonhador, 

diga para mim, 

valerá a pena lutar tanto assim?” 

Num “Pretenso poema!”, aquele que está na página 42, Irene Coimbra faz uma confissão “forte”, mas que, na verdade, também define muitos de nós outros: 

“Há duas almas dentro de mim! 

Uma é cordata e sempre policia meus atos. 

A outra é impulsiva, aloprada 

e não liga para nada.” 

Na página 46, a nossa poeta volta a abordar o tema do “valer a pena” e lá pelo meio dos versos ela novamente indaga: 

“por que então continuar 

nessa louca correria?” 

Mas, no final do poema seguinte (página 47), ela parece ter encontrado uma resposta não somente à última questão acima, mas também a várias outras suscitadas ao longo da obra: 

“Sintonia só com Deus, 

com outros não vale a pena.” 

Eis que chegamos à página 49, onde a poeta deixa registrado um conselho fundamental: 

“Você precisa aprender 

a reconhecer quando erra [...]” 

Por outro lado, na página 50, ela trata é de nos incentivar com veemência: 

“Não é fácil essa luta, 

você sabe muito bem, 

mas se venceu tantas outras, 

vencerá essa também!” 

Enfim, eis-nos chegados ao final da saga poética de Irene Coimbra (logo depois começa a sessão “Histórias de Irene”, que - como mencionado anteriormente - não me propus a analisar aqui). Nos dois últimos poemas (“Voando através da imaginação...”, página 51 e “Voe!”, página 52), a autora nos sugere alçar o voo na/para a vida, assim como ela o tem feito ao poetizar. Todavia, ao concluir, ela faz questão de nos deixar ainda um sábio e memorável alerta: 

“E assim como uma pluma 

no ar a flutuar, 

vou escrevendo meus versos [..]” 

****

“Hora de alçar voo! 

[...] 

Voe sem medo! 

Antes, porém, faça um voo panorâmico 

para evitar os predadores de sonhos, 

dos invejosos de plantão, 

dos que não ousam nada 

e trazem no rosto a inveja disfarçada. 

Depois voe alto e sem medo!” 

****

Fazendo um breve retrospecto dos versos de Irene Coimbra, percebo neles o perfil de uma escritora brilhante e uma poeta criativa.  Mas também pressinto uma filósofa experiente, que sabe das coisas da vida e, principalmente, um ser humano muito verdadeiro e corajoso, que não tem medo de expor os sentimentos e os pensamentos.  

Pela explícita beleza, pela verdade cristalina e, principalmente, pela contundente autenticidade nela contidas, esta obra (“Impressões colhidas”) de Irene Coimbra merece um especial destaque e acolhimento por todos aqueles que amam a arte vestida de letras. 

Ribeirão Preto, 08 de junho de 2023 

🠞Conceição Lima 

Apreciação Crítica de Obra "Impressões Colhidas" (Poesia e Prosa) - Livro de Irene Coimbra - Editora FUNPEC (2023), por Conceição Lima.  Em destaque, nas páginas 18, 19 e 20 da 63a Revista Ponto & Vírgula (abril/maio/junho/2023)