Poemas de MARIA ALICE FERREIRA DA ROSA

 Nós – e nós

Se há só um nó, 
já somos nós?
Com quantos nós 
se faz um nós?
Quantos laços se desfazem sem ser nós,
Quantos laços viram nós?
De quantos laços somos nós?
Já fomos laços ou sempre nós?
Como se desmancham os nós?
Aqueles que nos tornaram nós?
Se já não existem mais nós,
Será que ainda existe nós?


VERSOS PARA TI

Um dia hei de me cansar e me irei
E a ti, eu te deixarei para sempre
Quem te amará quando eu desistir desse amor?
Quem olhará nos teus olhos como tanto amor
Como sempre viste nos meus?
E ficará a teu lado em todos teus dias
E te esperará todas as noites e madrugadas?
Que haverá de segurar tuas mãos nos momentos de dor
E nunca dirá – “mais tarde, agora ocupo-me de mim”?
Quem te enviará versos falando
De uma paixão ardente que abrasa a vida
Rompe o tempo e apaga a distância?
Quem mais te fará os versos que eu te fiz?


BOLHA DE SABÃO

Paira, um momento, tão linda
Coloridamente flutua e roda
E sobe, e desce, e vem, e vai
Tocada uma quase imperceptível brisa
E, como um ímã, hipnotiza
Já não vemos mais nada ao redor
Nossos olhos, fixos e encantados
Seguem a bolha de sabão pelo ar
Ela brinca com cada um que a vê
Chega perto e sorrindo foge
Não se deixa tocar nem prender
Sua vida é encantar e alegrar
Mas não nasceu para ficar
Tem de ir, flutuar, deslumbrar
Até que, num súbito momento,
Se desfaça no ar e quebre o encanto...
Assim também foi minha paixão
Surgiu num de repente da vida
Bailou, flutuou, me encantou
Hipnotizada eu a segui deslumbrada
Suas cores eram as mais lindas
Sua existência se tornou meu existir
E a brisa, teimosa, a levava de mim
Angustiada num momento insano tentei detê-la 
E diante de meus olhos, agora molhados de lágrimas
Ela se desfez no ar e deixou-me a lembrança
De toda sua beleza, de tanta leveza
E então, no meu pranto aprendi:
Nunca toque, nem tente prender a paixão
Porque ela é mera bolha de sabão...


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Poemas de Maria Alice Ferreira da Rosa, em destaque, na página 23, da 68a. Revista Ponto & Vírgula (julho/agosto/setembro/2024)


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