UBIQUE PATRIAE MEMOR NA PRAÇA BARÃO DO RIO BRANCO- Sidnei Beneti

   

 
Quem visita a Praça Barão do Rio Branco, defronte à entrada do Edifício Histórico da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto depara-se com a herma do Barão do Rio Branco. Aquele busto em que o peito, as costas e os ombros são cortados por planos verticais. Rio Branco é o ícone maior da diplomacia brasileira, a quem se deve grande parte das fronteiras não só do Brasil, mas de toda a América Latina, o continente de limites nacionais mais estáveis do mundo. 
    Em Ribeirão Preto, aliás, o Barão do Rio Branco é nome de rua central - como também o é o seu genitor, o Visconde do Rio Branco. -  ambos figuras históricas nacionais.
No granito da herma do Barão do Rio Branco está grafado em maiúsculas: “UBIQUE PATRIAE MEMOR”. Atenção! Quem observar bem, verá que o AE de PATRIAE resulta de uma correção insculpida na pedra com acréscimo do E geminado ao lado do A. É que, quando elaborado o monumento, foi grafado, equivocamente, UBIQUE PATRIA MEMOR, e assim ficou, com erro, por muitos anos.
    Lembro o Professor Lourenço Torres da Silva, criador do Parlamento Estudantil no Otoniel Mota, e ainda, primeiro Professor de Direito Romano, na criação da Faculdade de Direito Laudo de Camargo, no Mosteiro de São Bento - curso para o qual elaborou uma pequena joia, que aqui tenho nas mãos, com todo o Direito Romano, em trinta e sete páginas de latim, intitulada “Romanorum Iuris Lectiones Brevissimae” (Ribeirão Preto: Diário de Notícias, 1962). 
    Durante as aulas de latim no Otoniel Mota, o erudito Professor  narrava a verdadeira cruzada que desenvolveu junto às autoridades municipais visando à correção do texto latino do monumento - atuando, permita-se imaginar, após troca de ideias com os grandes Mestres de Latim da época, Florianete de Oliveira Guimarães, Célio Bento de Freitas Costa e Salvador Marturano, os quais, embora Professores Titulares, respectivamente, de Português, Filosofia e Matemática, também eram professores de latim, dada a larga formação cultural daqueles tempos. 
    Corrigiu-se o texto latino com o acréscimo do E grudado na letra A, ficando “PATRIAE”.  Muitos anos pensei que apenas se corrigia flexão nominal latina, mudando a desinências do nominativo em genitivo (de A para AE), da primeira declinação latina.
    Mas não era apenas uma correção gramatical. A correta frase UBIQUE PATRIAE MEMOR é histórica na vida do homenageado pela herma. Constitui o ex-libris - gravura colada ou simples nota carimbada nos livros de uma biblioteca particular - que era lançado em seus livros pelo próprio Barão do Rio Branco, significando, em tradução livre: “Em Qualquer Lugar Lembrarei Sempre da Pátria”!  A frase alçou também à dignidade de legenda constante da insígnia da Ordem de Rio Branco, criada por Decreto Federal.
    A propósito, o Barão do Rio Branco é considerado pelos especialistas o primeiro grande colecionador de “ex-libris” do Brasil.  Mas essa é outra história.   
• Sidnei Beneti - Magistrado, ex-Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Atualmente reside em São Paulo. Membro Correspondente da Academia Ribeirãopretana de Letras (ARL)


Texto de Sidnei Benetti, em destaque, na página 14 
da 63a. Revista Ponto & Vírgula (abril/maio/junho/2023)



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