Erlon Vieira

Renovação


Primavera também tem tristeza
quando acaba chegando o Verão.
É o fim da florada da linda estação.

Mas logo em seguida o Verão, generoso,
recebe o Outono, numa grande prova,
trazendo seus frutos e a vida renova.

Na galhada da grande mangueira,
Sabiá construiu o seu ninho.
Feliz alimenta os seus filhotinhos.

Mas depois que crescem, vão batendo asas,
voando eles buscam seus novos parceiros.
É o ciclo da vida que passa ligeiro.

Entre os homens também é assim.
Morre o velho e nasce a criança.
É um retratinho na nossa lembrança.

Ela ficou velha, passaram-se os anos,
mas herdou da mãe toda formosura,
da menina moça, da mulher madura.

Na amplidão magistral do Universo,
as estrelas também vão morrer
e outras estrelas irão renascer.

E tudo renova lá no Infinito!
Minh’alma viaja e o tempo transponho,
levando comigo o amor de meus sonhos.

***


As bordas do coração
     

Não sei seu nome, seu endereço,
nem o que faz na vida afora.

Eu sou um homem e não mereço
saber mais dessa senhora.

Jeito matreiro, olhar morteiro,
que assim chegou,  tem essa dama
que não me ama nem vê quem sou.

É mais bonita que a Primavera
depois do Inverno trazendo as flores.

Onde ela habita?
 Deus, quem me dera
 ser anjo terno, dos seus amores.

E, aqui de longe,
tal qual um monge em oração,
canto esta moda, que fere as bordas
do coração.

***

Mais bonita que a rosa


Dizem que Deus ao construir nosso mundo,
retomou,  em um segundo, desta Terra a pureza.
 Olhou, pasmado, para a sua borboleta
 onde  tirou de letra a essência da beleza
 da terra baixa, até o cume da montanha.
 Ao passar pela entranha que permeia o chão bonito,
 Deus, orgulhoso pela sua obra prima,
 copiou o que sublima e levou para o infinito.

O voo alado de uma águia batedora,
e a cantiga duradoura do riacho cristalino.
O murmurar da pequena cachoeira
e as notas verdadeiras dos acordes de um hino.
O vai e vem da incansável formiguinha,
e o reinado da rainha, dona abelha, mãe do mel.
Todas essas coisas que a Sua obra encerra,
Deus levou para outras terras, que ficam depois do céu.

Não é possível descrever em poucos versos
a riqueza do universo que o pai abençoou.
Nem é possível repensar seu grande feito,
a memória não dá jeito, nem do tempo que restou.
E, lá da porta da varanda do meu rancho,
na estrela vejo um gancho, que me prende e não me solta.
Sou prisioneiro nas chaves do cadeado,
dos mistérios colocados que circundam minha volta.

Pensando nisso, entre a fumaça do pito,
quase que eu dou um grito ao lembrar de outro exemplo
lá nos confins do espaço sideral.
No arquivo universal onde Deus tem o seu templo,
está guardada a feição ainda menina,
da beleza feminina que tem o brilho da lua.
É o rosto lindo da mulher maravilhosa,
mais bonita que a rosa e moradora desta rua.





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