No ano de 1899, com vinte e dois anos de idade, Natale deixava a Comune Di Cassano D’Adda, Província de Milano.
Informam documentos resgatados da época, além de narrativas de protagonistas que, da província de Milão, foram poucos os que deixaram a Itália na condição de imigrantes.
Natale, embarcando em Gênova, aventura maior de sua vida, tinha a intenção de passar no Brasil uma temporada. Não veio só, mas com os irmãos mais velhos, Mauro e Jeremias. Apenas Mauro continuou com ele, Jeremias foi trabalhar no campo, não deu mais notícias e nunca conseguiram descobrir onde se estabeleceu.
A mãe olhou para os pratos abandonados na mesa, ha-via feito uma massa tão saborosa com pomodoro e formaggio. Partilharam o pão da despedida. Os filhos partiram naquela tarde fria de outono e ela nunca mais os veria. Nos copos, sobrava uma sombra colorida do vinho tinto, produzido na casa. Colhiam as uvas das parreiras no quintal.
Natale, ainda muito jovem, estivera com o pai na Ale-manha e durante três meses aprendera a técnica de fabricar cerveja. Estiveram em Munique, numa cervejaria com 400 anos de história. Utilizaria o aprendizado no Brasil.
Quando deixaram a Itália, mãe e pai sofreram a falta dos filhos, mas só o pai acreditou que eles voltariam e que se tratava de uma experiência da juventude.
A mãe estava certa, nunca retornaram. As lágrimas, somente eram de alegria quando as cartas chegavam, mas nunca tiveram notícias de Jeremias.
O correio, ansiosamente aguardado, fazia a irmã ler e responder as cartas para os pais.
Os dois irmãos se fixaram na capital de São Paulo. Mon-taram, com parcos recursos, uma fábrica de bebidas no bairro da Lapa, produzindo vinho, gasosa e cerveja.
Tempos depois, Natale veio para Jataí, onde se casou, em 1902 com Hermínia, italiana de Asolo comuna da região do Vêneto, com quem teve onze filhos. Comprou um sítio, plantou cana e produziu garapa, montou uma sorveteria, um salão de festas e ali viveu até abril de 1957, quando ficou doente e veio a falecer em São Paulo.
Ao narrar parte da vida de Natale que nasceu em 25 de dezembro de 1877, escrevo sobre a “vinda” do imigrante para o Brasil e sinto pelo sofrimento de todos os imigrantes que nos dias atuais abandonam suas casas, destruídas ou não, por guer-ras ou fome e, se arriscam a começar de novo, nova vida em diversas partes do mundo. São crianças e idosos, homens e mulheres, jovens com pouca esperança, em busca de oportunidades, que nem sempre são acolhidos.
Natale figura entre os italianos que vieram para o Brasil. Imigrantes que foram recebidos para o trabalho nas lavouras, nas empresas das cidades e que aqui se fixaram, permaneceram amando nossa Pátria que também é deles e de suas famílias.
Que imigração seja uma palavra que signifique união de pessoas, seres humanos em busca de oportunidades de progresso.
Que imigrante seja uma palavra que signifique não um refugiado, mas, alguém que possamos amar como irmão!
12a. Antologia Ponto & Vírgula - Página 95
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