Agonia- Nely Cyrino de Mello


Em seu leito de morte, o soneto agoniza.
Em seu cérebro febril, mil versos escorrem.
Nem o zéfiro suave a dor lhe ameniza,
nem o sol, o luar ou o céu o socorrem.

Pela fresta entreaberta, procura estrelas. 
Em delírio, chamando, ele invoca o Parnaso.
A própria tríade parece escondê-las.
Até mesmo o poeta esmaece ao ocaso.

Estrofes loucas buscam rimas no abismo,
numa réstia de luz, ante a eternidade.
Alucinado, abraçando o amado lirismo.

Camões, Bilac, Carvalho, Raimundo...
Num gesto etéreo de cumplicidade,
venham salvar este soneto moribundo.

12a. Antologia Ponto & Vírgula - Página 55





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