Ana Maria- Luzia Madalena Granato


    Ana é uma linda menina de olhos azuis claros, como as nuvens do céu, pele clara, cabelos ruivos e encaracolados. 
    Com apenas 3 anos de idade, começou a apresentar um comportamento, que sua mãe, um pouco preocupada, obser-vava e não entendia. 
    Todas as manhãs ela acordava sorrindo, brincava com sua mãe, alimentava-se bem, parecia uma criança feliz. De um dia para o outro, seu comportamento começou a denunciar algo impreciso. 
    Ao entardecer, após horário de seu jantar, deitava-se quieta no tapete vermelho da sala e apertava fortemente as perninhas, até que sua pele clara começava a ficar vermelha e ela transpirava. 
    Seu pai, que parecia um homem calmo, sempre que chegava à tarde, após beijar sua filha, sua esposa na testa, colocava seus pertences no quarto e falava, em tom alto, relatando questões ligadas ao trabalho, dinheiro, das reuniões e suas preocupações. 
    Sua mãe ouvia tudo e ajudava, nessa família aparente-mente normal, nas tarefas da casa, fazia uma comida deliciosa para o prazer de todos, cuidava das roupas e da educação da filha. Trabalhava fora apenas um período para não atrapalhar a educação de Ana Maria. 
    Havia uma empregada, pessoa calma, que a ajudava nos trabalhos mais pesados e cuidava da criança, enquanto ela trabalhava. 
    Ana, com muita energia, brincava pelo quintal com bola, água, terra, embaixo de uma mangueira frondosa. 
    A mãe, professora, brincava com ela, cantava músicas infantis e na hora de colocá-la para dormir, contava várias his-tórias, sempre narrando momentos do dia a dia de Ana que, atenta e inteligente, um dia perguntou-lhe: 
    - Mãe, esta história que a senhora está contando, tem sempre uma menina que se parece comigo. 
        A mãe tranquilamente dizia: - Você acha? 
Ela educava com criatividade sua linda filha, que era muito amada. Após essas horas de amor entre elas, a mãe rezava, preocupada e bastante atenta às mudanças que sua filha apresentava. Ansiedade? Tensões? Conflitos? Havia estudado um pouco de psicologia, por isso achou conveniente procurar ajuda de uma psicóloga. 
    Na consulta, relatou os fatos, comportamentos de sua filha. A psicóloga ouviu-a e a acalmou: 
    - Sua filha está na idade de transição, é a fase que a criança biologicamente e fisiologicamente apresenta tensões, conhecida como fase fálica. Considerada uma época, na qual as crianças querem controlar tudo, descarregam suas tensões psíquicas relacionadas com o desenvolvimento da sua personalidade infantil. Assim, apertam as pernas numa tentativa de chamar a atenção de vocês, pais, e por sentirem prazer em sua parte genital, com esse comportamento. Se você tivesse um menino, ele apresentaria sintomas também próprios da idade e talvez escondesse esses sintomas por trás dos shorts.
Ao terminar essa orientação, mãe e psicóloga se deram as mãos para as despedidas e a psicóloga se ofereceu para ten-tar esclarecer qualquer problema que houvesse no comportamento da criança. 
    A mãe suspirou aliviada. Ao chegar em casa, recebeu como sempre o lindo sorriso de sua filha. À noite, mais uma vez, Ana brincou de bailarina e dormiu em seu habitual horário. Seus pais aproveitaram para conversar sobre a consulta à psicóloga. A mãe disse: 
    - Não há motivo para nos preocupar, é normal o comportamento dela, segundo a psicóloga. É importante que a família entenda essa situação, sem chamar a atenção da criança em voz alta. 
    O pai ficou vermelho como um peru e prometeu mudar seu jeito de agir e falar. Os dois foram dormir entrelaçados prometendo cumplicidades, sem exageros em nome da sociedade massificadora em que viviam.
    Ana Maria cresceu bela, ao som do lindo piano que sua mãe tocava. Interessou-se pelo piano. Aprendeu a tocar como profissional. Cresceu como uma criança normal. Brincou, estu-dou. 
Hoje é uma linda mulher de caráter. Ao chegar em casa, após a faculdade, sorri, recebe o abraço de sua mãe e o beijo do seu pai. Ambos orgulhosos dessa filha. Mas a mãe, ainda atenta, observa calmamente a filha, orando, conversando e questionando o seu comportamento, quando necessário. 
    Ana Maria adora um celular e os amigos no WhatsApp, mas trabalha, participa da vida da família e adora comer morangos bem vermelhos, orgânicos, com calda de chocolate, que derretem na boca. Sonha muito. É romântica. Sonha até em casar. Mas passou por desilusão, com um homem sem caráter, que se diz Pastor e agora só pensa em estudar e focar no seu trabalho. 
    Poderá encontrar um homem de verdade, com caráter, sondando, pois aprendeu com a vida.


12a. Antologia Ponto & Vírgula - Página 116 














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