CRÔNICA NADA IMPESSOAL- Vera Regina Marçallo Gaetani

Vera Regina Marçallo Gaetani
declamando no Sarau Ponto & Vírgula- 7 de julho- 2018


No princípio foi o espanto, o susto ao constatar que seriam capazes. Depois veio a raiva e a revolta que demoraram a passar, mas passaram, dando lugar a um sentimento que, nunca então, eu havia sentido: o desprezo. É horrível o desprezo. É uma espécie de enjoo de espírito, de náusea espiritual. Faz mal.
Muitos entraram no meu íntimo envoltos pelo desprezo. Passei a trabalhá-lo, pois não conseguia conviver com ele, como não conseguia conviver com a inveja dos medíocres, dos fracos e dos falsos. Comecei por me afastar de tudo e de todos, como autodefesa, para me resguardar. 
Sem querer, fui encontrar, pouco a pouco, o que passei a chamar de “meu refúgio” e percebi que obtinha nele uma certa harmonia, uma certa paz. Quando me dei conta, o desprezo também havia passado restando apenas o “nada” o “não me importo mais...”
Continuo no meu refúgio, não mais por defesa, pois cresci e me tornei mais forte, mas, pelo bem que ele me faz, principalmente nos mergulhos que dou para dentro de mim mesma e que chamo de “diálogos comigo mesma”. Eles me têm levado a um enorme aprendizado. Dialoguei, tempos atrás, a respeito do perdão e aprendi que ele independe do acerto que tenhamos com os outros, mas do acerto que tenhamos com nós mesmos. De estarmos limpos por dentro. Assim estou.
Meu refúgio é meu lugar de refazimento, onde encontro as respostas para os meus “por quês”.

Percebi, então, que eu havia dado...
    ... A volta por cima

Extrapolei os sonhos!
Vivenciei as mágoas.
Convivi com fracos
Suportei os falsos.
Me mantive  em pé
Mesmo com pedras
Atingindo-me em cheio.
Varri da alma
A revolta ignóbil,
O desprezo inútil,
A tristeza vã,
A descrença falsa.
Reabri meu coração à vida,
Deixei reflorescer ternura.
Olhei em volta e para o céu sem fim.
Me conformei com o mundo,
Me conformei com a vida.
A vida e o mundo
Que mereci pra mim.
Obrigada, Senhor, pela volta
Que a vida me fez dar.
Aprendi a amar-te, sem mandamentos,
Pela simples razão de te amar.
















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