SEU ZÉ- Ana Paula Gomes de Morais

     Seu Zé era um senhor muito simpático e também educado. 
    Prosador que não tinha igual. A cada conversa na roda de amigos, uma história diferente. Não perdia um detalhe sequer. Muito menos esquecia de quantas vezes repetia a mesma história. Porém Seu Zé era grandioso e sempre reinventava. Contava com tanto gosto que valia a pena ouvi-lo. Quem não conhecia seu Zé, mal sabia o que perdia. As melhores histórias eram as de romance. Nossa! Tinha tanta paixão, que não havia quem não chorasse de emoção.
    Certa vez, contou que namorou a moça mais bela do bairro, a mais educada, o sorriso mais lindo, mas a vida os separou. Passaram-se muitos anos, mas nunca a esquecera. Ao pronunciar seu nome, “Aurora”, um sorriso de canto, nos lábios de Seu Zé se escondia.
    Mas a vida dá voltas e muitas voltas. Contou que Aurora havia se mudado para o mesmo bairro, perto de sua casa. Com as mesmas características que a definiam como inesquecível, como o sentimento que também ali ainda existia.
    Perguntamos: - E aí Seu Zé, o que sentiu?
    Seu Zé respirou fundo, com os olhos marejados de lágrimas e disse uma única palavra:
    – Doeu! – apontando para o peito.
    Seu Zé, naquela hora, não quis mais conversar, pediu-nos licença, retirou-se e entrou.
    Um amor verdadeiro, nunca se esquece, apenas enobrece, os sentidos da vida. Um sentimento que não se descreve, um sentimento único, que mesmo com o passar dos anos, nunca se perde, apenas enriquece, chegando ao ponto de não apenas enlouquecer, mas também de doer.








Conto de Ana Paula Gomes de Morais, na página 55 
da 20a. Antologia Ponto & Vírgula - Poemas, Contos e Crônicas.

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