NÉVOAS DE AGOSTO- Maris Ester de Souza

     Ao longe de meu eu, vejo um homem na praça. Sensível e terno ele realiza sonhos.  Na ânsia de seu cotidiano ele espera por mim. Nas linhas da vida ele viaja no conhecimento. Mesmo distante chego a tocá-lo. Ofereço-lhe um pouco de mim. Palavras nos fazem iguais. Em sua escrita viajamos. Eu sensível, mas com a razão predomi-nante digo-lhe que tenho os pés no chão, embora a sensibilidade predomine. Oferecemo-nos livros. Histórias e homens do passado discutem em nós a sensibilidade que o mundo não nos permite viver. Ele me diz que está feliz. Digo-lhe que sei. Toco-o por instantes. Minha timidez, meu eu, minha realidade, lhe conta que trago na alma um olhar verdadeiro de algo que foi escrito, de uma razão insana que a dor não me permite viver...
    Toco-lhe o rosto e pronuncio seu nome. Meu corpo lhe conta de um grande  amor que me foi tirado. Observo ao meu redor, sinto a natureza predominante. Gatos percorrem nossos caminhos. Uma basset chamada Princesa ronda minha perna e me pede colo. Rimos por momentos e eu o olho. Digo-lhe palavras que há muito estão guardadas em mim. As palavras nos sedu-zem e digo-lhe adeus. Peço-lhe que fique na praça, pois ali os livros ganham vida, assim como as pessoas que ali circulam. Há metáforas em nosso cotidiano, em nosso olhar perdido e vívido, a névoa de um inverno que chega e nos separa!


Crônica de Maris Ester de Souza, na página 86 
da 20a. Antologia Ponto & Vírgula - Poemas, Contos e Crônicas.
Editora FUNPEC - Coordenação de Irene Coimbra



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