A atriz- Heloisa Martins Alves


Sara Bernhard, atriz de grande sucesso na França no início do século XX, com uma história de vida marcante foi inspiração para Maria Antonieta da Silva, artista contemporânea do século XXI, com grande envolvimento em pesquisa e apaixonada pelo mundo da arte na França.
Sarah, ídolo de Maria Antonieta, era magnífica, soberba na arte da interpretação, a primeira mulher empresária no mundo do teatro, com muito sucesso. 
Maria Antonieta cursou Artes Cênicas na USP, fez a escola de teatro Célia Helena e também participou de várias oficinas oferecidas para atores. Especializou-se em direção.  Seu maior desafio seria escrever, interpretar e dirigir a vida do grande mito Sarah Bernhard com uma linguagem bem próxima da do início do século XX que tudo faria lembrar a própria Sarah em cena.
Viajou para Paris e começou a refazer toda a rotina que a atriz fazia no seu tempo. Com isso conseguiria trazer a sua personagem bem próxima da realidade. Começou a se vestir,a pentear-se e a maquiar-se como Sarah. Também começou a frequentar o restaurante predileto de Sarah, L´escargot Monterguill, no Halles, com muitas histórias nos seus salões art nouveau, lugar deslumbrante que guarda muitas histórias e conserva a decoração da época até os dias de hoje.
Maria Antonieta se apaixonou-se por tudo. Apossou-se da vida de Sarah e reviveu tudo como se o tempo não tivesse passado e Sarah não tivesse partido. Passou a ser uma cortesã de luxo em Paris, satisfazendo o fetiche de muitos milionários. Casou-se com um ator de pouco sucesso e teve um filho, como Sarah. Envolveu-se com uma alta personalidade da realeza da Europa, mas o romance não foi duradouro.
Apresentou-se em vários teatros, revivendo A Dama das Camélias de Alexandre Dumas, como Sarah. Seu marido tinha problemas com drogas e acabou falecendo por overdose.
Sarah também perdera o marido no auge do seu sucesso.
Maria Antonieta, pela sua excentricidade misturada a um talento psicótico, fez sucesso e começou a se apresentar pelo mundo afora como se fosse uma nova Sarah. Viajou para o Brasil, país em cujo teatro Sarah sofreu um acidente que a deixou muito doente de uma perna. Esse teatro já não mais existia, mas era uma lembrança constante para ela.
Apresentou-se no teatro do Leblon, interpretou Tosca, como Sarah, e no ímpeto da sua apresentação, propositalmente ou em um momento de loucura, machucou-se como Sarah e voltou para a Europa. Sua perna piorou, mas, ainda assim, em uma cadeira de rodas foi se apresentar, para os soldados, no Iraque.
Sua voz impressionou como a voz de Sarah impressionava.
Foi um grande sucesso!  Na sua solidão misturada à loucura, acabou também tendo um relacionamento íntimo com uma artista plástica da arte pop e de grande reconhecimento, Marie Bertrand.       Em uma das suas últimas apresentações no teatro, não havia mais Maria Antonieta, e sim Sarah.  Não reconhecia mais o seu próprio nome.
Ela era Sarah dentro da sua obsessão, loucura, sem realidade, olhar insano, distante, vazio, passos arrastados, linguajar profano, demoníaco.
Um enfermeiro, senhor do desconforto, aplicou-lhe a injeção e a deixou catatônica, fora do mundo, bicho acuado. Uma tênue linha entre a normalidade e a loucura.
Essa linha foi como um fio de seda pronto para arrebentar, arrebatando mais uma para o solar do esquecimento...

O manicômio.



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