A quarta casa- Imaculada Conceição dos Santos Silva


Todo fim de ano as pessoas fazem festa de Reveillon esperando o novo ano com muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender e também, um ano vindouro, melhor do que o que ficou para trás. Querem comemorar com tudo o que têm direito, principalmente com muita comida e bebida.
Dando uma olhada pela janela, nas casas da vizinhança, pude ver que a primeira era de gente bem rica. Vi uma mesa bem posta, com uma toalha toda branca, muitos assados e lindas taças para champanhe, já postas em um balde com gelo. De longe não dava para ver a marca, mas pelo jeito eram importadas. Nos cantos da sala, várias mesinhas cobertas por longas toalhas que esbarravam no chão e, sobre elas, lindos arranjos de flores e muitas frutas de toda variedade.
Do peitoral da janela dava para sentir o perfume que vinha do interior da casa, misturado ao cheiro dos assados. Não podia se esperar outra coisa daquela residência. O que impressionava eram as taças, tão brilhantes, todas de cristal. Eles brindariam por toda a felicidade de um ano novo, pena que não daria para vê-los brindarem.
A segunda era de uma família de classe média alta, que não ficava muito abaixo da primeira. A mesa também estava bem posta com muitos assados e frutas. Essa família esperava um ano melhor. Pelo que dava para ouvir, aquele não fora um ano muito bom para eles. Todos vestiam branco, mas não deixariam de brindar com suas taças e o champanhe importado na espera de um ano melhor.
 A terceira casa era de gente de classe mais baixa. A mesa estava bem posta, mas a toalha não era branca.
Essa família dizia que os fins de ano já não eram como antigamente. Mesmo com todo o brilho das casas, as ruas estavam meio sem graça e também não passariam o Reveillon comendo frango para não ficarem ciscando o ano inteiro. Na mesa havia frutas e assados e as taças não eram de cristal, eram taças comuns. Combinaram que brindariam a saúde e o resto correriam atrás.
A quarta casa, de gente muito simples que também esperava um fim de ano sem fome, era um barraco, um cômodo pequeno, com uma cama de casal e vários colchões empilhados que pertenciam às quatro crianças.
As crianças estavam de banho tomado e sentadas em um banco de madeira do lado de fora. Tinham pouca coisa para comer.       Do lado de fora estava o fogão de lenha com as panelas contendo o que comeriam.
Do lado de dentro, uma pequena mesa com umas bananas maduras dentro de um prato.
Já era quase virada do ano, quando em frente ao barraco parou um carro. O motorista desceu com uma cesta básica, comida pronta, duas champanhes - uma Sidra e uma Perlage  bem geladinha – quatro taças e Coca Cola para as crianças.
No canto do cômodo havia um pequeno armário com vários copos de requeijão. O casal ficou feliz, mas na hora de brindar, a mulher não aceitou a taça e correu para pegar seu copo de requeijão. Aí o casal rico viu qual era a realidade do casal pobre, a mulher nunca tinha visto uma taça.

Então os quatro brindaram com os copos de requeijão sob a luz da lamparina.





Comentários