Mãe sofrendo, corpo cansado
denunciando dores do vazio, da tristeza. Lágrimas caindo como um rio em suas
faces, pedindo a Nossa Senhora, que abençoasse seu lar que parecia desfeito,
pois lá faltava respeito. Conversando com seu marido, rude, vivendo só a se
queixar, pediu-lhe ajuda. Como pai de seus filhos, no papel de líder e o amor
que juraram e plantaram naquela casa com carinho onde já não existia mais. Até
o jardim estava secando, não vingava uma flor.
Ouvindo sua mulher e mãe de seus
filhos, a família se reuniu: mãe, pai e filhos para conversar. Pais perguntaram
aos filhos:
- Por que esta falta de diálogo
e só televisão? Este tal celular e o computador: esse mundo virtual, vazio que
afasta vocês de nós?
Filhos ficaram quietos, depois
responderam:
- Todo mundo é assim.
Pai retrucou:
- Mas nossa família não é todo
mundo. Eu vejo sua mãe cansada e, por ser espiritualizada, veio desabafar e
pedir ajuda.
A mãe então começou o seu
desabafo:
- Meus filhos, vocês não me dão
um bom dia, um abraço querido, só correm para tudo e quando peço ajuda para
usar o computador (que hoje uso por necessidade de acompanhar as novas tecnologias),
vocês não têm tempo. Quando falo, olham torto e até me enfrentam. Não sei o que
fazer, pois esse tal de ratinho, “mouse” do computador, teclas e até esta
setinha rápida não consigo acompanhar como vocês. Eu (que em meu ventre)
agradeci a Nossa Senhora, a Deus e a Jesus por me fazer mãe, hoje sinto que
esta tal modernidade está massacrando meu lar. Antes vocês eram uma luz, nesse mundo de tanta
desunião. Quantas vezes, dia e noite, quando nasceram, cuidei de vocês
amamentando 24 h, cantando cantigas de ninar, também contava estórias - se
preciso fosse até dez por noite - para vocês dormirem. Repetidamente brinquei
com vocês, repetidamente embalei, aqueci seus corpos no frio e, quando estavam
com febre, permanecia lá como mulher, mãe,” médica”, “enfermeira” e primeira
professora , continuando meu processo de ensinar, de amar, cantar, falar, e
fazer uma comidinha quente e um docinho predileto, contentando a todos. Hoje
estou velha e cansada, nem enxergo tanto, estou
perdendo até a concentração, pois minha
alma e meu corpo denunciam que
está na hora de ver vocês, filhos crescidos, me ajudarem, darem um pouco o
“colo” para me aquietar. Pensei que, por
gratidão, os papéis se invertessem: vocês podendo cuidar até do seu pai. Mas a
falta de compaixão bateu na porta do meu lar. Filhos egoístas, só pensam em
vocês, são a majestade e eu nem sabia. Quantas vezes preciso pedir paciência, paz, pois está em
jogo a minha saúde e vocês fazem tudo
com rapidez e até com uma certa dureza de coração. Demoram a atender o pedido
de sua mãe e de seu pai. Esse tal de
computador, não vou pedir mais. Vou buscar alguém que me ensine, pois estou
cansada de mendigar. Sou aquela mãe de couro grosso, que suportou todas as
mazelas. Na tragédia e
tristeza aguentava tudo e tentei
fazer o meu melhor para os meus pais, dando alegria na hora da dor. Aprendi que
o amor com respeito é remédio certo. E peço a vocês então que são filhos de
couro fino: Tenham compaixão desses pais, que estão pedindo amor, carinho e
respeito. Mais calma, pois nossas almas não acompanham essa tal modernidade, e
não aceitam tanta correria, esse mal estar no nosso lar.
Os filhos, então chorando,
começaram a pedir perdão..
A mãe com tristeza e o pai com
firmeza continuaram:
- Se a situação continuar assim,
e vocês continuarem com essa tirania, nós vamos embora. Fiquem com a casa que
com suor do nosso corpo compramos. Agora pegamos nossa mala pequena, pois já
cumprimos nossa missão: criamos vocês com amor e fraternidade.
Vamos
para o mundo andar, devagarinho, com esperança de que possamos aquietar nossos
peitos e nossas almas, pois Deus, sempre nos amparou e segurou as nossas mãos.
Não é agora com essas mãos trêmulas que Deus, nosso criador, vai nos faltar.
Deixo a vocês de herança a lembrança de meu amor divino, como mãe. Pois dei
amor que não se compra nos livros, nos títulos e nas lojas. Amor vem do Divino
Espírito Santo, vem de Deus que nós tentamos passar.
Adeus,
filhos queridos, que a conversa tenha chegado até vocês com amor, para pensarem que, um dia, poderão passar pelos mesmos sofrimentos. E espero com todo
amor, que esse tenha sido o testemunho divino de quem ama de verdade, e orando
para que aprendam de mansinho, devagarinho a respeitar seus pais. Pois quando
velhos, ficamos frágeis como vocês eram ao nascer. Nós agora velhos, vamos para
outro lar. Adeus meus filhos queridos. A benção!
Que
Deus os oriente na luz, pois Ele na cruz deixou Jesus. Ele há de perdoar e
iluminar outra vez a todos nós, que precisamos, ainda cansados, rezar, aceitar
a nossa situação e continuar a amar. Precisamos do carinho, da compaixão dos
filhos e não de um asilo...
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