O mestre e o jovem Fernando- Irene Coimbra



Ele acabava de visitar um túmulo e voltava mergulhado em seus pensamentos, quando viu aquele jovem, todo concentrado, sentado em um banco sob a sombra de uma árvore, lendo um livro.
Olhou-o com curiosidade, aproximou-se e perguntou-lhe:
- O que está lendo, jovem?
Noites Brancas de Dostoievski – respondeu o jovem, educadamente.
- E por que num lugar tão inusitado?
- Busco a paz de espírito.
Parecendo intrigado com a resposta, continuou o diálogo.
- Jamais vi alguém lendo Dostoievski dentro de um cemitério, muito menos alguém de sua idade.
O jovem sorriu e com ironia na voz, disse:
- Não sou uma pessoa normal e, às vezes, prefiro a companhia dos mortos que a dos vivos.
- Também costumo vir aqui visitar o túmulo de meus familiares e, de um certo modo, como você, me sinto bem e isso me traz paz.
Deixando de lado o livro que lia, e mudando o rumo da conversa, agora com tom de entusiasmo na voz, disse o jovem:
- O senhor será meu professor no próximo ano!
- Como sabe que sou professor?
- Estudo na mesma Faculdade onde o senhor leciona, professor!
Sem esconder um ar de satisfação ao ser reconhecido, perguntou-lhe:
- Qual é seu nome?
- Fernando.
Tirou do bolso um convite e lhe disse:
- Darei uma palestra hoje na ACI e você é meu convidado, Fernando.  É bom saber que serei professor de um jovem que gosta de ler.
- Muito obrigado, professor!  É o primeiro convite que recebo de uma pessoa importante. Irei com certeza.
Depois de um inteligente bate-papo os dois saíram caminhando, lado a lado, até a porta do cemitério. Ali se despediram.
Eu, que a tudo observava sem ser vista por eles, fiquei pensando naquela frase que todo mundo diz:
“Nada acontece por acaso.”  
Com certeza não foi por acaso que os dois se encontraram ali, e também não foi por acaso que ouvi essa conversa.
Muitas perguntas ficaram martelando em minha mente. Sobre o que seria aquela palestra? Que importância teria na vida de Fernando? Aprenderia mais uma lição de vida?
Só Deus sabe!

Irene Coimbra














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