Saudade- Arthur Gregório Valério

 O espelho, o espelho perpetrado
Do amor tão pálido e não amado
Reflexo insalubre das minhas dores
O fino beijo de cadavéricos livores
Que limpam da pele a amarga vida
E adensam tristes os seus amores
Quantas lástimas aqui espalhadas
Puras rezas, preces alvas e intocadas
Da gangrena orbitante das batalhas
De lápide em lápide, onde mortalhas
Malditas flores e azuis palavras
Rasgam-me de amor em migalhas
Dolorosa Mãe de Deus, acalenta-me!
Embala-me no berço da eternidade
Quero pulsar como o órgão palpitante
Quero morrer, matar, viver de saudade
No trilho dos teus sussurros adiante
Em tempos quando tinha outra idade.

*
Poema de Arthur Gregório Valério, em destaque na página 17, da 70a. Revista Ponto & Vírgula (janeiro/fevereiro/março/2025)

Comentários