A vida é como um jardim. Uma flor que seca aos poucos e morre no
final. Um jardim de cores vivas e mortas. Um paraíso incerto, pouco sabido. Um
repouso duvidoso que atinge o ápice da vida: a morte.
A angústia do momento concede brilho onde a escuridão perpetua. Um
momento sublime, glorioso, nobre. O caminhar lento das horas tristes e o gosto
amargo entalado na garganta reluz um sorriso amarelo vagando perplexo, atônito;
e o silêncio do ambiente entorpecendo a alma. É suave o cheiro que se instala
das flores astrais.
A solidão e o silêncio, amantes inveterados dispersos na vida,
auferindo corações de razões, em ato e cena de um drama final, contemporâneo em
toda a história, objeto perdido no universo, ditado pelo relógio sem ponteiros
e que está suspenso no tempo,no fim de uma peça divinamente teatral.
Um termo desconhecido, pouco explorado. Aquarela monocromática que
a instância do acaso desenha, desdenhando o esmero da ocasião. Sutil, leviano,
torpe, ardil, insensato, amargo. A esfera desse cosmo é finita aos corações
gladiados, desfacelados no tempo e espaço; heróis entre sóis trilhando caminhos
ascéticos, cavalgando passos mágicos em uma floresta escura, entrevada de
flores mortas e galhos secos. Um quadro soturno, de pincéis escusos em moldura
de ouro, prata e cobre, arte inconteste da vida reproduzida.
Ousar além é óbvio. Cruzar a fronteira do além é que difere este
bordão, entrave único do cordão umbilical altivo. Romper o elo é a descoberta
prática da teoria realista.
Malabares da órbita psíquica envoltos em uma neblina mórbida.
Sordidez voraz que ninguém explica. Natural dos seres viventes o confronto
direto entre vida e morte.
O ser, demasiadamente pequeno humano, desaparece na estratosfera
tão pequena comparada ao vasto mundo de “Raimundo” que ficou sem poema e
solução. Eclipses ocultos não. É como regurgitar Maiakowski“...brilhar como o
sol”. Este sol, ah sol! O livro dos dias é como tempestade, glória da bonança.
O ar pesado, o clima mofado, o cheiro forte de morte é passagem
para outra estação, vanguarda da realeza, sina desconhecida, oculta ao
conhecimento do homem, seguindo um ritual prescrito conforme testamento
cultural. Não se compara, não presta e não serve ao ser, machadiamente falando,
assinalando idéias Assis.
É momento sublime e único. Clarão suntuoso e abundante, eterno. A
cerimônia lúgubre esbaldada na incerteza do lugar. Razão que não se sabe, até
que se prove o gosto amargo e a sensação. Ausência de batimentos cardíacos, a
pele fria, os lábios gelados, um frasco sem essência. Podre, fétido,
decomposto. O congestionamento do transe não é problema algum para a glória do
momento. Ressalva feita à precisão do tempo.
As quimeras da vaidade em outra estação perdem o seu valor.
Sintonia fina coletiva, ocaso eqüitativo. A carne, sem espírito, transporta o
núcleo permanecendo a parte podre, fétida, cheirando mal à espera dos bichos.
Triste fronteira do passado, futuro presente, destino exato,
parada certa. O medo, parte dominante do ostracismo celeste é fator apreensivo
e condicionante, que torna o mar das várias variáveis retroativo, e deve ser
extirpado para que a rota navegada não afogue amanhã à vontade do náufrago de
viver o hoje.
No caminho encontra-se passagem. É preciso, de prazo válido. Um
sofrimento pautado na demora do encontro, lento. Mares nunca antes navegados.
Cartesianismo infinito e coberto de mistérios. Premissa dos novos dias.
Conquistada pelo tempo e só prestigiada quando prescrita a vida. Teoria sem
praticidade, curiosidade que não é pragmática. Deve-se ir além do que os olhos
podem ver e compreender. Desdobrando-se todo lânguido durante o curso da vida,onde
se esbalda todo afoito,ausente do fôlego, suspira pela vida que foi vivida e
sofrida. Muito além de alguém, só aquém de réquiem, a marca que um dia foi
auferida nunca poderá ser subtraída.
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