Eu me viro -Célia Moura



Eu me viro
perante o veneno da serpente
e os afetos alcatroados
que reviram no âmago da gente.
Abençoo a luz para não amaldiçoar as trevas.
Me lavo no fogo
ao vento em preces
para que as cinzas prossigam até ao mar.
Não, a peçonha dos rastejantes
não é maior que o voo das pombas
que ainda repousam no parapeito da esperança…
É nelas que lanço o olhar que me restou
de onde espreito a vida.
É onde faço e desfaço os laços
recolhendo na colheita arremessada à eira
todas as ressacas, todos os pedaços.





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