A linguagem é uns dos elementos mais antigos da história do homem. Portanto, parece até contraditória a crítica que se lança contra aqueles que trilham as veredas deixadas pelas palavras com o objetivo de melhor entender os passos dados pelos nossos antepassados.
Usei propositadamente a palavra “veredas”, em lugar de “caminho”. Em Portugal, já sob a influência dos árabes, dos gregos e dos bárbaros, o latim que teria sido herdado dos romanos, foi aos poucos se transformando no nosso português.
Em Roma usava-se a palavra “edil” para batizar aquele que exercia as funções próximas do nosso “vereador”. Os historiadores da linguagem indicam que em Portugal, no passado remoto, “vereas” era o nome pelo qual eram conhecidos os “cavalos”. O caminho trilhado pelos cavaleiros passou a ser conhecido como “veredas”. Finalmente nossos antepassados portugueses deram o nome de “vereadores” aos homens que tinham como função cuidar das veredas que ligavam as suas antigas cidades.
No passado aqui no Brasil as Câmaras de Vereadores eram conhecidas como o “Senado Municipal”. Vale a pena estudar a raiz do vocábulo. Na antiga Roma o pai de família tinha o poder de vida e morte sobre os membros de sua comunidade. Naquele antiquíssimo tempo, a estrutura jurídica dos romanos era tribal.
Com o tempo os membros das tribos passaram a se relacionar, fazendo explodir conflitos entre famílias diferentes. Daí surgiu a dificuldade de um determinado pai de família resolver um conflito entre membros de seu grupo com pessoas de outro grupo. Reconheceram a existência do que conhecemos pelo nome de incompetência ou em razão de pessoa ou em razão de lugar.
Os pais de família, resolvendo os novos problemas, escolheram um ponto de encontro em Roma, transformando o local num fórum escolhido para resolver conflitos entre pessoas e entre famílias.
O pai de família invariavelmente era o mais velho membro da sua tribo. Em latim “velho” era “senex” raiz usada em português para dizer “senilidade” que significa “velhice”. Portanto, o local indicado para a reunião dos velhos pais de família em Roma passou a ser conhecido como “senatus”.
Assim surgiu a semente do Poder Legislativo hoje sob a fortíssima influência da língua inglesa.
O escritor alemão Erich Auerbac, de origem judaica, exilado em Istambul, para fugir das garras do nazismo, em seu livro “Mimesis”, revela que os autores da antiguidade invariavelmente registravam os feitos das classes superiores em suas obras. A exceção estaria na linguagem do Novo Testamento, onde os narradores revelam os passos de Cristo, filho de uma dona de casa, esposa de um carpinteiro, que passou pela vida acompanhado por pessoas simples, como o pescador Pedro. O escritor dá relevo ao episódio em que Pedro nega sua amizade com Cristo no momento da sua tortura.
Observa-se que os discípulos de Cristo mantiveram a sua unidade, mesmo após trilhar caminhos geográficos diferentes e muito antes de Galileu descobrir o livro impresso.
Na Grécia antiga, os historiadores registram, bem antes de Cristo, a existência de um grupo de pensadores que convertiam em seu conhecimento tudo que podiam estudar. Receberam o nome de “sofistas” porque conheciam todas as respostas certas para todas as indagações.
Eram conhecidos pela expressão “encyklios paideia” da qual derivou o vocábulo “enciclopédia”, que hoje usamos encadernadas ou ”on line”, conforme tão bem anotou Peter Burke em seu livro "O Polímata".
Não seria atrevimento afirmar que os principais objetos do estudo da história da humanidade sejam o próprio homem e a linguagem escrita e oral por ele criada para documentar seus inesquecíveis passos.
Crônica em destaque na 55a. Revista Ponto & Vírgula - Pág. 17
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